As investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro apontam que a empresa PCS laboratórios, de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, deliberadamente afrouxou o controle dos testes em órgãos para transplantes. A companhia é acusada de divulgar exames de sangue com resultados falso negativos que resultaram na contaminação por HIV de pelo menos seis pacientes após transplantes de órgãos infectados.
Duas pessoas foram presas até agora
A Operação Verum foi deflagrada nesta segunda-feira (14). Duas pessoas foram presas e outras duas continuam sendo procuradas pelas autoridades. Segundo a polícia, a empresa teria tornado menos frequente o controle de qualidade dos reagentes usados nas análises dos órgãos doados. O objetivo da ação era aumentar os lucros.
Houve uma quebra do controle de qualidade, visando à maximização de lucro e deixando de lado a preservação e a segurança da saúde dos testes. Os reagentes precisavam ser analisados sistematicamente, diariamente, e houve uma determinação, que estamos apurando, para que fosse diminuída essa fiscalização de forma semanal. E essa lacuna, você flexibiliza e aumenta a chance de ter algum efeito colateral — esse efeito devastador que nós estamos analisando.
André Neves, delegado titular da Delegacia do Consumidor
Por contrato, a PCS laboratórios deveria analisar o sangue de todo candidato a doador de órgãos. Para saber se o doador era soropositivo, uma amostra do sangue é exposta a um reagente. No entanto, esse reagente precisa ser submetido a um teste de qualidade antes de ser usado. De acordo com as investigações, esta prova era feita diariamente, mas houve uma ordem para que ela passasse a ser realizada semanalmente. A medida aumentou as chances de um reagente ineficaz ser usado.
Um dos presos na ação desta segunda é Walter Vieira, sócio da empresa, ginecologista, responsável técnico do laboratório e signatário de um dos laudos errados. Também foi detido Ivanilson Fernandes dos Santos, técnico de laboratório contratado pelo PCS para fazer análise clínica no material que chegava da Central Estadual de Transplantes.
A polícia ainda faz buscas a Cleber de Oliveira dos Santos, que também era técnico da empresa, e a Jacqueline Iris Bacellar de Assis, auxiliar administrativa que trabalhava na PCS laboratórios e cuja assinatura aparece em um dos laudos que atestaram que os doadores de órgãos não tinham HIV.
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O que dizem os acusados
- Todos os citados são investigados por crime contra as relações de consumo, associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e infração sanitária.
- Os advogados que representam a PCS laboratórios informaram que os sócios da empresa “prestarão todos os esclarecimentos à Justiça”.
- Além disso, a defesa de Walter Vieira repudiou a suposta existência de um esquema criminoso para forjar laudos e disse que a empresa atua no mercado há mais de 50 anos.
- Jacqueline, por sua vez, reconheceu que as rubricas nos documentos são suas, mas negou qualquer envolvimento no caso.
- Ela ainda disse que na hora que assinava os documentos não havia carimbo, nem registro de profissional, e que foi contratada para trabalhar no laboratório no setor administrativo.
- A reportagem do G1 buscou contato com os outros citados, mas não obteve retorno.
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