Nesta quinta-feira (1), a Intel anunciou que realizará rodada de demissões, com o intuito de trabalhar em plano de recuperação, pois a empresa se encontra com certa dificuldade.
Ao todo, 15% do total da força de trabalho da empresa será dispensada. Este número representa 15 mil trabalhadores. Ainda, a empresa informou outras ações de reestruturação interna e redução de gastos.
Uma forma de guardar dinheiro que a Intel encontrou é por meio da suspensão de seu dividendo trimestral no quarto trimestre. Após o anúncio, as ações da empresa caíram mais de 20% no pregão estendido.
Em carta aos funcionários, Patrick Gelsinger, presidente-executivo da Intel, disse o seguinte:
Esta é uma notícia dolorosa para eu compartilhar. Sei que será ainda mais difícil para vocês lerem. Este é um dia incrivelmente difícil para a Intel, pois estamos fazendo algumas das mudanças mais consequentes na história de nossa empresa.
Patrick Gelsinger, presidente-executivo da Intel, em carta aos funcionários
“Preciso de menos pessoas na sede, mais pessoas no campo, dando suporte aos clientes”, disse o CEO à Reuters em entrevista sobre os cortes de empregos. Acerca da suspensão de dividendos, ele disse: “Nosso objetivo é […] pagar dividendo competitivo ao longo do tempo, mas, agora, focando no balanço, desalavancagem.”
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O que está acontecendo com a Intel?
- A Intel é uma das maiores (se não é a maior) fabricantes de chips de microprocessadores;
- Mas, ultimamente, a empresa vem enfrentando verdadeira crise ante a forte competição em chips voltados para a inteligência artificial (IA);
- A última grande reestruturação da Intel, segundo o The New York Times, foi em 2016, quando houve corte de 12 mil postos de trabalho, à época, o equivalente a 11% dos empregados;
- Desde que assumiu o controle da Intel, em 2021, Gelsinger tenta dar novo vigor à empresa;
- Entre outras atitudes, ele virou um dos principais lobistas da indústria por subsídios do governo dos EUA, de modo a incentivar mais produção de chips no país;
- Ele também tentou consertar os problemas de fabricação da empresa, que, ao contrário da maioria de sua concorrência, fabrica e, também, projeta chips. Outras geralmente dependem das fundições, especialmente da Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC).
Antes de Gelsinger assumir o cargo, a TSMC superara a Intel na entrega de avanços regulares de produção, o que dá aos chips maior poder de computação.
Para se equiparar, o presidente-executivo da big tech criou um plano ousado: entregar cinco gerações de tecnologia em quatro anos, algo que, normalmente, acontece a cada dois anos.
Portanto, ele queria colocar oito anos de desenvolvimento em metade disso (quem lembra do “50 anos em 5” de Juscelino Kubitschek, hein?). Só que, como era de se imaginar, esse esforço todo tem dado certo, mas com custos pesados para a empresa.
Outra ideia de Gelsinger foi um plano paralelo para a construção de mais fábricas e transformar a Intel em uma “nova TSMC”, transformando-se em grande fundição que fabrica chips para outros players do mercado.
Tal medida tornou a companhia a maior beneficiária da nova legislação dos EUA, sancionada em março, chamada de CHIPS Act. Por meio dela, a big tech obteve, provisoriamente, subsídios federais de US$ 8,5 bilhões (R$ 48,89 bilhões, na conversão direta)
A Intel também enfrentou problemas com o produto. A demanda por PCs equipados com seus processadores caiu em 2023, ao passo em que seus clientes passaram a buscar a Nvidia por chips de IA para data centers, apesar de a resposta da gigante de chips ter respondido bem à demanda ao adicionar recursos aos modelos padrão e ao criar o modelo especial Gaudi.
Outra grande rival, a AMD, também obteve maior fatia de mercado nos chips de IA para data centers e produtos especiais para a nova tecnologia em ascensão.
Receitas
Também nesta quinta-feira (1), a Intel informou que sua receita com data centers caiu 3% no segundo trimestre deste ano. Já a AMD, em anúncio realizado na terça-feira (29), salto de 115% com os negócios de data center.
De forma geral, a Intel teve prejuízo de US$ 1,6 bilhão (R$ 9,2 bilhões) no último trimestre, enquanto a receita recuou 1%, indo a US$ 12,8 bilhões (R$ 73,62 bilhões). A margem de lucro bruto da Intel tinha média de 65%; no trimestre passado, foi de 35,4%.
Sobre o tema, na carta enviada aos funcionários, Gelsinger afirmou que as receitas não cresceram conforme a expectativa e que a empresa ainda não obteve o benefício completo das tendências do momento, como a IA.
Ele escreveu, ainda, que a companhia registrou cerca de US$ 24 bilhões (R$ 138,05 bilhões) a menos de receita em 2023 do que em 2020, mas que a força de trabalho da big tech é 10% maior. “Há muitas razões para isso, mas não é um caminho sustentável”, pontuou.
O presidente-executivo afirmou, ainda, que a empresa ainda era muito burocrática e ineficiente, mesmo com tentativas anteriores de simplificação de operações.
Segundo ele, como parte da reestruturação, serão cortados os números de produtos vendidos, interrompidos os trabalhos não essenciais e reduzidos os gastos de capital em mais de 24%.
Ainda, informou que muitos dos cortes de pessoal serão feitos a partir de programas de aposentadoria antecipada e de saída voluntária. Porém, tais demissões “me desafiaram profundamente, e esta é a coisa mais difícil que já fiz na minha carreira”, desabafou Gelsinger.
Em contrapartida, ele prometeu que sua empresa priorizará “cultura de honestidade, transparência e respeito nas semanas e meses que virão”.
Um plano de redução de custos de US$ 10 bilhões [R$ 57,52 bilhões] mostra que a gerência está disposta a tomar medidas fortes e drásticas para endireitar o navio e consertar os problemas. Mas todos nós estamos perguntando, ‘é o suficiente’ e é uma reação um pouco tardia, considerando que o CEO Gelsinger está no comando há mais de três anos?
Michael Schulman, diretor de investimentos da Running Point Capital, em entrevista à Reuters
Projeções
Quando se fala do presente e futuro, a margem de lucro bruto projetada pela Intel para o atual trimestre é de 34% e receita entre US$ 12,5 bilhões (R$ 71,9 bilhões) a US$ 13,5 bilhões (R$ 77,65 bilhões). Os analistas estimavam algo melhor: US$ 14,3 bilhões (R$ 82,25 bilhões).
Em teleconferência realizada com investidores, Gelsinger e David Zinsner, diretor financeiro da Intel, explicaram que um dos motivos para a baixa expectativa de lucro é o mercado de PCs, pois os fabricantes acumularam estoques excessivos de chips, dada a baixa demanda, especialmente na China.
Todavia, a empresa aposta que a nova geração de PCs equipados com IA gerará maior demanda.
Seus microprocessadores voltados para tais máquinas exigem vários chips, grande parte deles fabricados por fundições externas e que custam mais à big tech do que os que ela mesma fabrica, segundo Zinsner.
Segundo ele, conforme a companha passar a fabricá-los, suas margens de lucro serão melhores. Já Gelsinger prevê que os investimentos nesses componentes renderão frutos à empresa, pois os PCs alimentados com IA podem crescer para mais da metade do mercado de PCs até 2026.
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